Costuma sentir-se observado? A ciência explica
Sentado no autocarro, a ler as notícias do dia no seu telemóvel e de repente começa a sentir o seu pescoço a ficar tenso e os pelos da nuca a eriçarem-se. Não sabe como, mas tem a certeza que alguém tem o olhar fixo em si. Olha para cima e os seus olhos encontram mesmo esse olhar.
Pode ser uma linda rapariga, um belo homem, um amigo, os seus pais ou um estranho com um aspecto pouco recomendável. Pode ser no autocarro, na rua, numa sala de aula…
O que nos faz sentir que estamos a ser observados, mesmo que não estejamos a “ver” quem nos olha?
Quando pensamos em “ver” imaginamos uma imagem a entrar nos nossos olhos, sendo encaminhada para o nosso córtex visual e depois vivenciarmos a experiência consciente de visualizar essa imagem.
Mas a realidade é muito mais estranha e complexa. Os nossos olhos apanham muito mais do que pensamos. A neurociência e o estudo de uma incomum lesão cerebral ajudam a desvendar o mistério.
Um homem, TN, sofreu um AVC em 2003 que lhe destruiu a área do cérebro que processa a informação visual – o córtex visual primário. Embora o AVC tivesse afectado apenas um dos hemisférios do seu cérebro, um segundo AVC um mês depois, destruiu o córtex visual primário do outro hemisfério. TN, na historia da ciência, passou a ser um homem aparte – apesar de possuir olhos perfeitamente normais e saudáveis, ficou cego.
O que torna a cegueira de TN tao incomum é que, apesar da total ausência de consciência do facto, TN consegue ver. Investigadores pediram-lhe que andasse num corredor cheio de obstáculos e TN lá foi evitando todos, apesar de afirmar não ver nenhum.
Num segundo teste foram mostradas a TN fotografias de pessoas olhando em frente e outras olhando para o lado. Apesar de conscientemente TN não conseguir visualizar nada, a sua amígdala, zona do cérebro que se pensa interveniente no processamento de emoções e reacção a faces, verificou maior actividade em fotos em que as pessoas olham em frente (na direção de quem vê a foto.
Que quer isto dizer?
Que o cérebro humano evoluiu de forma a que informação visual bastante importante para a nossa sobrevivência – como o facto de alguém estar a olhar fixamente para nós, como por exemplo um predador faz antes de atacar, ou um possível parceiro sexual faz para demonstrar interesse – possa ser processada rápida e inconscientemente em zonas distintas do cérebro, que não o córtex visual primário.
Que quando nos sentimos observados poderá ser o nosso sistema visual não-consciente que se encontra a monitorizar o ambiente circundante, enquanto a nossa atenção consciente se encontra a fazer outra coisa qualquer… e que o nosso cérebro trabalho de formas tao espectaculares como surpreendentes.